O fato de que o déficit
fiscal não seria zerado no ano que vem era um segredo de polichinelo. Ninguém
no mercado acreditava nisso, como mostrou uma pesquisa Focus divulgada em
agosto pelo Banco Central: na média das projeções de mais de 100 instituições
financeiras, o Brasil só alcançaria essa meta em 2028.
Ainda assim, Fernando Haddad vinha mantendo até hoje o
discurso de que o propósito estava de pé. Há duas maneiras de interpretar esse
comportamento.
A primeira é que Haddad achava importante mostrar ao
mercado que o governo está realmente comprometido com a responsabilidade
fiscal.
A segunda é que a busca quixotesca do déficit zero
simplesmente ajudava Haddad a negociar no Congresso a sua pauta econômica, que
consiste, antes de mais nada, em encontrar novas fontes de arrecadação.
A primeira hipótese é um pouco ingênua, a segunda talvez
seja excessivamente cética. A verdade deve estar numa combinação das duas.
Seja como for, Lula rasgou a fantasia nesta
sexta-feira, 27. Em um café com jornalistas, ele disse que
a meta fiscal não precisa ser zero. “Eu não vou estabelecer uma
meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo um corte de bilhões nas
obras que são prioritárias nesse País”, disse o presidente.
Foi uma burrice e uma irresponsabilidade.
A resposta do mercado veio imediatamente. Como mostrou
o Antagonista, os juros futuros
e o dólar dispararam logo depois de o presidente demonstrar que
os compromissos assumidos na negociação do novo arcabouço fiscal eram conversa
para boi dormir. Talvez Lula não se importe muito, pois acha que todas as
demandas por contenção fiscal decorrem do “excesso de ganância” do
mercado (ele também disse isso nesta sexta).
O que Lula talvez venha a lamentar é a reação do
Congresso à sua entregada de jogo. Se o governo não leva a sério a
necessidade de conter gastos, por que os deputados e senadores deveriam levar?
Ou, dito de outra maneira: se o governo não quer fazer ajustes, que sempre são
desagradáveis, por que o Congresso deveria arcar com esse desgaste?
E daí devem vir mil demandas por aumento de recursos para
emendas parlamentares e outras tantas resistências a medidas que contrariam os
interesses grupos econômicos na reforma tributária, sem falar nas pressões para
que a União compense os estados por esta ou aquela perda de arrecadação etc.
etc. Essa é a regra no Brasil: se o governo dá mostras de querer gastar, todo
mundo quer entrar na festa. E todas as demandas são igualmente “prioritárias”.
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