Luciane Barbosa Farias, mais conhecida como a “dama do
tráfico” no Amazonas, afirmou nesta terça-feira já ter participado de
audiências com o ministro da Justiça, Flávio Dino, sem ter conversado
diretamente com o político. Esposa do líder de uma facção criminosa no Amazonas
e que chegou a ser condenada em segunda instância por uma suposta ligação com
tráfico de drogas, ela confirmou ainda em uma coletiva de imprensa as reuniões
em Brasília no Ministério da Justiça, onde contou ter ido uma vez com as
despesas custeadas pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
— Pessoas estão usando minha cabeça como Cristo para
atacar o atual governo e o ministro. Flávio Dino nunca me recebeu. Cheguei a
vê-lo sim em algumas audiências lá no Ministério dos Direitos Humanos, mas
nunca cheguei a conversar com ele pessoalmente — afirmou Luciane
As manifestações ocorreram depois de o jornal “O Estado
de S.Paulo” revelar que ela esteve com secretários do ministro, mas seu nome
não foi registrado na agenda oficial. Mulher de Clemilson dos Santos Farias,
líder da facção mais conhecido como Tio Patinhas, Luciane chegou a ser
condenada a dez anos de prisão por ter desempenhado, de acordo com o Ministério
Público, um papel essencial na ocultação de valores do tráfico.
A esposa de Tio Patinhas afirmou ainda que sua segunda
viagem à Brasília foi paga pelo Ministério dos Direitos Humanos após ter sido
convidada a integrar o Comitê de Prevenção e Combate à Tortura do estado do
Amazonas, cargo que ainda não ocupa oficialmente.
— Ainda não tomei posse e nem sei se vou conseguir tomar,
devido a toda essa repercussão nacional no nome da minha pessoa — pontuou.
Sobre a reunião com o secretário de Assuntos Legislativos
no ministério, Elias Vaz, Luciene disse que foi entregar um dossiê sobre as
condições do sistema prisional no Amazonas e que não falou especificamente
sobre o caso marido, Clemilson dos Santos Farias, preso desde dezembro de 2022.
O traficante, de 45 anos, foi condenado em outubro deste a 31 anos e 7 meses de
prisão por associação ao tráfico de drogas, organização criminosa e lavagem de
dinheiro. Ele chegou a ser considerado um dos criminosos mais procurados do
Amazonas antes de ser detido.
— De fato ele não sabia quem era o meu esposo, porque no
momento isso não vinha ao caso. Estava lá como presidente de uma instituição —
justificou Luciane, que promoveu uma coletiva de imprensa ao lado da advogada
Janira Rocha, responsável por marcar a reunião no ministério.
Após a repercussão da ida da “dama do tráfico” ao
Ministério da Justiça, o órgão publicou uma portaria alterando as normas de
acesso à sede da pasta. Foram adicionados três novos itens às regras. A
primeira determina uma antecedência mínima de 48 horas para que todos os que
participarão de reunião ou audiência sejam identificados, sendo obrigatório
informar o CPF. A lista com os participantes deve ser enviada por email.
Em resposta, o ministro da Justiça Flávio Dino (PSB)
afirmou que nunca recebeu líderes de facção em seu gabinete. “Nunca recebi, em
audiência no Ministério da Justiça, líder de facção criminosa, ou esposa, ou
parente, ou vizinho. De modo absurdo, simplesmente inventam a minha presença em
uma audiência que NÃO SE REALIZOU em meu gabinete. Sobre a audiência, em outro
local, sem o meu conhecimento ou presença, vejam a história verdadeira no
Twitter do Elias Vaz (secretário do ministério). Lendo lá, verificarão que não
é o que estão dizendo por conta de vil politicagem”, afirmou.
Secretário de Assuntos Legislativos no ministério, Elias
Vaz informou que no dia 14 de março recebeu uma solicitação de audiência por
parte da ex-deputada estadual Janira Rocha. Dois dias depois, em 16 de março,
Janira teria ido à pasta e levado Luciane como sua acompanhante. “Ela se
limitou a falar sobre supostas irregularidades no sistema penitenciário.
Repudio qualquer envolvimento abjeto e politiqueiro do meu nome com atividades
criminosas”, afirmou.
O Globo
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